Críticas Culturais

Sem manchas e sem defeitos

Crítica de "O Homem de La Mancha" musical de Miguel Falabella
 
Com um pouco de esforço e talvez uma certa espera qualquer pessoa consegue assistir gratuitamente a um dos mais belos espetáculos em cartaz na cidade de São Paulo dos últimos anos, e bota anos nisso.
"O Homem de La Mancha" musical dirigido por Miguel Falabella a partir do texto do americano Dale Wasserman chega a quase perfeição como entretenimento e arte.
Com uma história empolgante, que emociona, diverte e desperta o entusiasmo na plateia, o texto nos remete a loucura (ou seria sonho) de Miguel de Cervantes e sua maior obra, Dom Quixote.
O diretor (que sabe como ninguém conduzir uma peça ao show) teve uma brilhante ideia: aproximar o "cavaleiro da triste figura" e seus delírios ao artista plástico Artur Bispo do Rosário, brasileiríssimo, que viveu por toda a sua vida num manicômio e criou obras magnificas. Dois loucos geniais e um visagismo de tirar o fôlego, o figurino (de Claudio Tovar) é não menos impactante do que a luz (de Drika Matheus) que com cores fortes e vivas dá um aspecto ora medieval, ora obscuro, ora feliz e ensolarada.
O espetáculo tem um fôlego impressionante, quando já tudo se sabe, tudo já se estabeleceu, surgem ótimas cenas, como a chegada dos ciganos ou a apresentação da família do velho Quijana num confessionário, mas é na cena dos espelhos que cenário, atores, direção e plateia caem de amor pela obra de Cervantes, pois a cena nos esfrega na cara o quanto o que somos contrasta com o que tornamos.
O prestigio da montagem e tudo envolvido é tanto que nos surpreendemos vendo grandes estrelas do musical brasileiro fazendo papeis pequenos, como Saulo Vasconcellos e Kiara Sasso, mas eles quando aparecem, mostram realmente que não há papel pequeno para grandes atores.
Mas é no trio principal que está o ouro humano da montagem, a comicidade fácil de Jorge Maya (Sancho Pança), a voz e a dramaticidade lírica de Sara Sarres (Aldonza) e o talento irrepreensível de Cleto Baccic como protagonista, esse por sinal com justiça venceu todos os prêmios de musicais do ano de 2014, e se fossemos como nos Estados Unidos que repetem prêmios em anos da peça em cartaz, ganharia novamente esse ano. Cleto canta com a voz que definiu para seu velho, não perde em nenhum momento sua partitura corporal e arrebata os corações com uma força combinada com a fragilidade, delicadeza e doçura.
Porque ver?
"O Homem de La Mancha" vale cada segundo esperando na fila do Teatro do Sesi e se prepare para sair feliz depois de ver um grande espetáculo.

Serviço:
Até 28 de junho
Avenida Paulista, 1313 - Bela Vista - São Paulo - SP - Tel.: (11) 3146 7406
Quarta a sexta, 21h; sábado, 17h e 21h; domingo, 19h.
Reservas pelo site www.sesisp.org.br/meu-sesi.
Cinquenta ingressos serão distribuídos no dia a partir das 13h (quarta a sábado) e das 11h (domingo).
Grátis
 
 
 


Melhor. Como ser uma grande atriz?
Crítica do Espetáculo "Como ser uma pessoa pior" , de Germano Mello e Michelle Ferreira, direção Mario Bortolotto, com Lulu Pavarin


Uma mulher de meia idade acredita ter lido todos os livros de auto-ajuda, sem no entanto ter conseguido decifrar a origem de sua dependência por relacionamentos. Ao trancar-se num apartamento na companhia de uma garrafa de uísque e uma samabaia, ela desenvolve um método — em 12 passos — para se tornar uma pessoa pior. O monólogo comemora os 25 anos de carreira da atriz Lulu Pavarin, aliás Lulu está em sua melhor forma, uma atriz plena, cheia de nuances e jocosidade. Sua personagem em "Como Ser..." titubeia sempre, mas Lulu é certeira. O texto de Germano Mello e de Michelle Ferreira (com argumento da própria atriz) acaba fazendo opções que rodeiam as velhas questões da mulher, e dos relacionamentos amorosos frustrados, mesmo com toda cara de moderno, esbarra no clichê, mas Lulu salva. A direção de Mario Bortolloto fica acuada,  parece que Bortolotto não tem muitos traquejos com a questão mulher-amor-meia-idade, sua marginalidade de peças anteriores escapa e acaba mostrando as caras em cena, causando uma estranheza, já que o texto desvia dessa marginalidade, mas mesmo assim Lulu salva. É certo dizer que o texto, direção, figurinos e cenário cambaleiam numa corda bamba, seus feitores parecem inseguros nas verdades propostas, mas a excelente atriz Lulu Pavarin péga cada item do espetáculo e conserta. Não havia para eles outra opção melhor do que essa atriz para essa e qualquer peça. Parabens pelos 25 anos.

As Esperanças são as Últimas que Morrem
Crítica do Espetáculo A Tímida Luz de Vela das Últimas Esperanças, da Cia Ellas de Teatro

Duas velhas que vivem sob a mesma casa e dividem as mesmas mágoas, angústias e fantasmas do passado. A peça combina nuances dramáticas, com uma boa dose de humor (Cachoeiro de Itapemirim – ES). Sem nenhuma luz especial, com luz branca encandescente e calcado em estereótipos, os atores Lucimar Costa e Mario Ferreira provocam cenicamente uma estranheza, carregam na construção de seus personagens, vozes estereotipadas, sotaques carregados, postura corporal arcada, mas não vemos o mesmo e estereotipo em figurinos e cenário. Cadê o artistico pra essas velhas? Na peça há uma briga entre clean e exacerbos.  A velha-criada tem voz de crioula americana de filme mississipiano, esbarrando as vezes no estereótipo do preto-velho. A outra é arcada e ruminante, também esbarra num clichê de velhinha de programa de humor. A direção coletiva derrapa e nao elege uma cara ao espetáculo, mal das direções quando coletivas. A luz é seca, mas a música é lúdica e emocional. Quando uma personagem sai de cena e endireita a postura, voltando a ser ator, aos olhos ainda da platéia, isso quebra radicalmente o teatral e nos joga na masmorra dos exercicios teatrais insuportavelmente crús. Mas a verdade é que o texto de Milson Henriques é muito bom, com as escolhas da montagem, esse texto não estabelece um clima cênico, o teatro acaba não se instaurando, a emoção não chega, mas dá pra avistar o execelente texto que a Cia Ellas tem nas mãos. Uma das mais brilhantes tiradas do texto são os cortes quando a velha patroa sonha e a outra a ataca com a realidade(O penico furou, acabou o feijão, a vendinha fechou). Existe uma esperança: a escolha de uma linha mais clara de montagem, ou a cor sépia da emoção, vestidões e anáguas, ou a opção pelo duro, com um corte seco feito Bernarda Alba, ou um rasgo de realidade sem concessões a emoção. Os atores Mario e Lucimar também estão escondidos nessa confusão, mas dá pra perceber o quão dentro deles está cada uma dessas velhas, mesmo mal iluminadas.



Quase sem Doma
Critica do espetáculo de Rua "A Megera Domada" direção Carlos Ola


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Divertido Feito um Lazzi
Crítica do Espetáculo "As Espertezas de Arlequim" da Cia Arte Comédia, de Curitiba-PR, direção de Roberto Innocente.
Chegamos na belissima praça da pomposa Faculdade federal, esperamos alguns minutos, sentamos numa roda bem pequena e pronto: A magia do teatro de rua foi lá e se estabeleceu. A simplicidade de "As Espertezas de Arlequim", da Cia curitibana Arte da Comédia, prova mais uma vez que o tradicional teatro popular ainda diverte, regozija e cumpre seu papel. O espetáculo conta a história dO velho Pantaleão que quer casar com Ricciolina, mas o Arlequim, seu criado também está apaixonado por ela. Mas Ricciolina não quer nenhum dos dois, um é velho, o outro é criado, prefere um jovem bonito e rico da cidade, mas não aparece ninguém. Com figurinos corretos e delicados (Exceto o da Bruxa que foge do contexto restante) e com um cenário que é uma versátil e bem usada janela, os atores talentosos e rápidos conduzem fácilmente a platéia, a atriz Susane de Deus Bueno têm jovialidade e força, mesmo lhe faltando as vezes a jocosidade e malícia natural da comédia Dell" Arte que vemos de sobra nos dois outros contracenas. Um espetáculo direto, bem feito e que dá beleza e orgulho a palavra tradicional. Aliás, o desfexo é de uma irônia simples e genial, parabéns Príncipe do Festival.


                                                ***



No Fio da Navalha
Crítica do espetáculo Navalha na Carne, da Cia Nó ao Vento, de S.Paulo

Peça realista e cruel, é o recorte de uma noite na vida da prostituta Neusa Sueli, do cafetão Vado e do homossexual Veludo. Clássico da dramturgia nacional, e muitas vezes montada, a Cia Nó ao Vento faz uma montagem direta, rápida e simples, calcada na força das palavras de Plinio Marcos. Eder Soares e Rita Brafer, que interpretam Vadinho e Neuza imprimem com facilidade o clima marginal do texto, com excelentes performances, mas ainda parecem inseguros para a violência exigida nas cenas, precisam abusar mais da sexualidade vulgar de seus personagens, Eder tem no olhar uma promessa de grande ator. Mas é Admir Calazans com seu Veludo que sacode aquele barraco, imprime humor, miséria e modernidade a obra de 1967, Veludo é deliciosamente provocante e provocador e seu interprete tira a montagem do lugar comum e acrescenta a ela uma interpretação genial. Mas, mesmo mais de 40 anos depois, Plinio ainda inspira grandes cias de teatro. Evoé.
 





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Alto Teor de Cicuta e Cinismo
Crítica do espetáculo "As Mulheres da Rua 23" da Cia de Teatro Autoral do Rio de Janeiro-RJ
Duas mulheres, ou não, conversam num bucólico banco sobre suas vidas, ou morte, ou sobre pequenos acontecimentos do cotidiano, e dão uma receita de bolo a platéia, um bolo onde o ingrediente principal é a deslavada e inteligente gargalhada, recheado de cinismo. A receita tem salpicadas verdades venenosas, acrescidas ao talento fermentoso de seus atores (Leo Campos e Leandro Bertholini)que fazem crescer qualquer frase do texto, e dão sentido cômico a qualquer silêncio ou pausa. Num dialogo coreografado, os atores passeiam pelo teatro do absurdo, sem seu peso histórico, substituindo aquele ranço teórico do Ionesco, por um frescor festivo, dragqueenesco e tupiniquim. O texto de Leandro Bertholini e Raphael Miguel é um primor, cínico toda vida, que vem cozinhando seu público, e saboreando cada bobagem, transformada em frase jungiana após o declinio do som dos risos, apenas um adendo: o fim surpreendentemente óbvio, mas com tantas surpresas até isso vira um petit-charmant.
A direção de Carlos Alexandre é desenhada, nos remete a um rigor de época, que só acrescenta charme e climatiza a comédia, dando a ela estofo para ser engraçada, tornando algumas cenas memoráveis, como a das cinzas mortais sendo recolhidas por exemplo, mas é mesmo de cinismo e veneno de que esta peça foi cozida. E quem se deleita é o publico, que volta pra casa flâmbado na cicuta.

Texto de Valter Vanir Coelho (Autor e Diretor Teatral)

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O teatro de rua continua sendo um oasis de frescor diante do gesso da cena teatral. O grupo capixaba Gota,´Pó e Poeira encenando na praça central um clássico de Shakespeare, foi uma das melhores coisas do Festival de Curitiba 2011. Tá certo, que Megera é um recorrente em teatro de rua, mas seu diretor Carlos Olla soube explorar um elenco afiado e apimentado. O espetáculo em sua primeira metade é frenético, rápido e eletrizante, muito a isso se deve aos excelentes: Mayk Malfasine
  (Catarina) e Edmar da Silva (como ama e madrasta  de Catarina). A segunda parte, após a entrada de Petrucchio o espetáculo cai um pouco, também o tom de voz, mas mesmo assim se sustenta interessante e perspicaz.

Com uma comunicação tarimbada e precisa com o público, que rende as melhores piadas, damos conta de uma Catarina que parece que jamais será domada, a personagem shakespeareana até perde um pouco a graça quando atende as vontades do marido, claro que sua contrariedade podia também render mais, mas a opção do elenco foi apenas o publico se compadecer a ela. Eu continuo duvidando que alguem possa dobrar aquela Catarina, mas assimestá escrito, agora e para sempre. Salvas a um grupo que caminha cada vez mais firme a um lugar de honra no universo indomável da criatividade de teatral.


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Faltou Virar a "Mesa"
Crítica do Espetáculo "A Mesa" da Cia Intiquietos, da Cidade de Nova Mutum-MT, com direção de Alexandre Carrara.

O Yin e o Yang poeticamente vem pôr em discursão as dores do mundo tão conflitante em que vivemos, passando pelos sentimentos e evoluções do homem pós-moderno, mostrando as dores e as alegrias, e levando o público a uma verdadeira batalha de sentimentos e à reflexão do sim e do não.
 Não estamos mais acostumados com esse "tipo" de teatro, onde ouvimos não personagens, mas opniões. Um estilo protestante, palavras de ordem e discursos enfáticos de como o mundo, a vida e as pessoas estão cada vez menos poeris, amáveis e corretas. "A Mesa" é um espetáculo cheio de opniões, vontades e protestos. Um pouco verborrágico, mas os atores conseguem transportar o protesto, para uma curiosidade simpática. É visível a paixão do grupo pela utopia, pela vontade, pela justiça. Disfarçada em exercícios corporais, a peça se presta a panfletagem, com mais voracidades, do que teatralidade, mas quem disse que isso já não é suficiênte? Mas falta um pouco de ousadia e transgressão, nesse protesto teatral.
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Ô Trem Bão
Crítica de "E Toda Vez Que Ele Passa Vai Levando Qualquer Coisa Minha", da Cia Delirvun Teatro e Dança, de São Simão-SP, Direção de João Butoh.

Com uma estrutura de espetáculo de dança, mas sem dança, a cia. de S.Simão contou uma história, apesar de não ter uma palavra, muito clara. Situações de uma vida de espera, um trem que leva sentimentos, pessoas e histórias. Com um grupo formado exclusivamente por atores de terceira idade, o diretor João Butoh, acostumado a nos apresentar espetáculos orientalizados, não fugiu de seu habitat natural, mesmo sem a verticalidade do Butoh, do Nô, a peça fazia vertes de um teatro oriental, ou pelo menos um esboço dele. "E Toda Vez..." segue numa trilha musical constante, num ritmo lento e acaba decrescendo.
O excesso de imagens encenadas acaba supervalorizando as expressões e gestos dos atores, evidenciando a experiência de vida deles, mas tb a inesperiência no palco, fazendo com que qualquer erro, inadaptação ou dificuldade fique maior do que realmente é. O silêncio faz falta no espetáculo, assim como a voz de cada personagem, ou quaisquer sons que pudessem vir deles.
Com uma qualidade visual inegável, figurinos e adereços belíssimos, e uma emocionante busca de um teatro verdadeiro, a cia fez um expressivo e forte momento teatral no Fringe. O tempo, ou um trem leva da gente muitas coisas, e o teatro muitas vezes as devolve, ou nos ajuda a olhá-las com menos distâcia. "E Toda Vez..." nôs faz sair suspirativos desta estação de trem.

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Além do Histórico, do Pop-Dark e da Chuva

Crítica do espetáculo "Sua Incelença, Ricardo III" do Grupo Clowns de Shakespeare, Direção de Gabriel Vilela. Com fotos de Daniel Sorrentino.
Eu não estava presente em 1992, no Morro Vermelho, na pré-estréia de Romeu e Julieta, do Grupo Galpão, mas conta a história (e o DVD) que caiu uma forte chuva, e enebriados por mito e mágica, ninguém saiu, público e atores continuaram alí, lavados. Só fui assistir Romeu meses depois no Sesc São José dos Campos, mas sonhei fazer parte da platéia mineira, testemunha ocular da história do teatro nacional. Não foi a estréia, mas certamente será mítico. O mesmo diretor de Romeu e Julieta, Gabriel Vilela depois de muitos anos, volta ao teatro de rua, e na segunda apresentação em Curitiba, nesta comigo na platéia,
presenteia o teatro com mais um ítem da história. Novamente com Shakespeare. Era 19h30 e todos aguardavam nas arquibancadas montadas no Largo da Ordem os atores potiguas da Cia Clowns de Shakespeare, serenava e parava com alguma frequencia, mas inibidos pelo espectador de trás, ninguem ousava abrir seu guarda-chuvas. Lá vieram eles, e antes da primeira estrofe (de um pop-inglês) um black out acontece, a chuva que molhara os aparatos eletronicos causava o primeiro estrago.
Os atores voltam, o diretor fala algumas palavras e a luz reaparece, recomeça o espetáculo. O sonho se renova. O teatro de rua renasce, fresco por história, molhado pelo mito. A chuva em vários momentos aumenta, até cair de vez. O som falha, mas os atores continuam, os instrumentos de sopro entopem, mas eles continuam. Ricardo III assassina os sobrinhos, e tudo continua. Já com guarda-chuvas abertos a imensa maioria do público continua, vidrados, molhados, encharcados. E temos alí, a uma distância paupável, mais uma vez um capitulo enciclopédico acontecendo no teatro. Gabriel Vilela com seus figurinos exuberantes, com suas cores emolduradas e com sua veia triste, trágica e barroca é mesmo uma grife (como disse meu amigo Airton Amaral), a tristeza poética de Vilela se mistura com o grupo Clown de Shakespeare, com sua vocação pastelônica, nordestina, forrozeira e feliz. Resultando num espetáculo cheia de nuances, duplos-sentidos, melancôlias e recursos cênicos.
Um espetáculo moldurado o tempo todo com a estética dark e brejeira, meio Tim Burton, meio Chacrinha. Ricardo III travestido no coronelismo sertanejo, A Rainha a la Rosane Collor, uma rainha-mãe cover do Fred Mercury, podiam parecer uma mistureba exagerada, uma colagem pop por demais, mas se não percebessemos nisso a opção sincera e caótica do caldeirão cultural mambembe, nordestino, burlesco, da carroça pantaleonica. Vocacionado pelo teatro de rua, a mistura, o exagero, o vísivel sempre foi nossa maior herança, veja que, é por esta visibilidade grosseira que o teatro de rua não economiza em pernas de pau, chitas coloridas e manifestações folclóricas. E por que Sua Incelença, Ricardo III iria economizar? Não, não podia. O teatro de rua ainda é uma das poucas manifestações artisticas que não cairam na ditadura do discreto, odiosa ditadura do blazé. Onde tudo pra ser bom, tem de ser mínimo, clean, cool. O correto fica obsoleto quando colocado no Teatro de Rua.
Se pedirem pra eu apontar um defeito, ainda fico com a parte musical em inglês do espetáculo, acho que as músicas no idioma de Shakespeare, com letras as vezes que não condizem com a cena, afastam mais do que aproximam a história da platéia, mas a atitude inglesa do Rock-in-Roll parece ser o motivo das músicas estarem ali, além claro, do efeito pop-dark. Por fim, foi dia comum em Curitiba, com chuva no final da tarde e inicio da noite. Dia incomum para os atores do Clown de Shakespeare. Dia repetitivo para Gabriel Vilela. Dia inesquecível para uma platéia molhada. Dia histórico para mim. E o resto? O resto foi noite e silêncio. Meu reino por um guarda chuva maior!


Valter Vanir Coelho
Diretor e Autor Teatral)
ciasemmascaras@hotmail.com


                                                      ***

Morrendo de sede em frente ao Mar
Crítica do espetáculo "Do Outro Lado do Mar" da Cia do Teatro Gente, de Salvador-BA

Quando sentamos nas cadeiras espaçosas do Teatro José Maria Santos, e olhamos para o palco, a expectativa aumenta: Com alguns pequenos recursos de luz, um pouco de sal grosso (não tão pouco assim), damos de frente a uma praia imensa, mágica e bela, cenário e luz magnificas. É aí que começa o grande espetáculo, que acaba não sendo propriamente a peça teatral que descorre naquele palco, e sim a trilha sonora executada ao vivo, criada e maestrada brilhantemente pelo Mestre Bira Reis, com pesquisa de Ana Bela. Só a trilha já vale a ida ao teatro. Os atores Ana Maria Soares e Everton Machado são excelentes, brincam com nuances, dominam o palco e com a direção de Suelma Costa fazem as figuras mais poéticas com seus corpos. Mas com todas essas qualidades que descrevo acima, era pra ser "o espetáculo", mas não é. Ainda saimos do teatro decepcionados. As enormes qualidades se tornam individuais, não se integram, não se permeiam, não se tornam coletivas. A verborragia do texto do angolano José Mena Abranches parecem ter uma parcela de culpa. A peça não apresenta um climax. Tudo é bom, menos o espetáculo como um todo. Cenário, Luz, Figurino, Atores, Trilha nadam, nadam, mas o público morre na praia.

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