Teatro de Alto Teor de Cicuta e Cinismo

Crítica do espetáculo "As Mulheres da Rua 23" da Cia de Teatro Autoral do Rio de Janeiro-RJ

Duas mulheres, ou não, conversam num bucólico banco sobre suas vidas, ou morte, ou sobre pequenos acontecimentos do cotidiano, e dão uma receita de bolo a platéia, um bolo onde o ingrediente principal é a deslavada e inteligente gargalhada, recheado de cinismo. A receita tem salpicadas verdades venenosas, acrescidas ao talento fermentoso de seus atores (Leo Campos e Leandro Bertholini)que fazem crescer qualquer frase do texto, e dão sentido cômico a qualquer silêncio ou pausa. Num dialogo coreografado, os atores passeiam pelo teatro do absurdo, sem seu peso histórico, substituindo aquele ranço teórico do Ionesco, por um frescor festivo, dragqueenesco e tupiniquim.
O texto de Leandro Bertholini e Raphael Miguel é um primor, cínico toda vida, que vem cozinhando seu público, e saboreando cada bobagem, transformada em frase jungiana após o declinio do som dos risos, apenas um adendo: o fim surpreendentemente óbvio, mas com tantas surpresas até isso vira um petit-charmant.
A direção de Carlos Alexandre é desenhada, nos remete a um rigor de época, que só acrescenta charme e climatiza a comédia, dando a ela estofo para ser engraçada, tornando algumas cenas memoráveis, como a das cinzas mortais sendo recolhidas por exemplo, mas é mesmo de cinismo e veneno de que esta peça foi cozida. E quem se deleita é o publico, que volta pra casa flâmbado na cicuta.

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