Deus e o Diabo na Terra do Sol e no Teatro
Um clássico do cinema brasileiro, o filme Deus e o Diabo na
Terra do Sol, de Glauber Rocha, ganhou versão teatral. A montagem é uma produção da Cia Provisória, núcleo de pesquisa em teatro
musical formado por alunos da Escola de Teatro da Unirio. Criada há três anos, a
Cia Provisória estreou com a montagem de Calabar, o Elogio da
Traição, peça de Chico Buarque e Ruy Guerra, e chega agora ao seu segundo
trabalho voltado para uma temática brasileira.
Lançado em 1964 e premiado em vários festivais internacionais, Deus e o Diabo na Terra do Sol é considerado um marco do Cinema Novo e da obra de Glauber. Além de diretor, o cineasta foi responsável pelo argumento, pelos diálogos, juntamente com Paulo Gil Soares, e pelas letras da música da trilha sonora, composta por Sergio Ricardo. O filme conta a história do casal de camponeses Manuel e Rosa, que vivem a fome e a miséria do sertão. Após descobrir que foi enganado por seu patrão, o coronel Morais, Manuel o mata e foge com a mulher, juntando-se aos seguidores de um beato, o Santo Sebastião. “Uma das coisas que nos impressionam muito é a qualidade dramatúrgica da música de Sergio Ricardo, além de toda a força da brasilidade do filme, que já é bem conhecida de todos”, avalia o diretor da peça, Jefferson Almeida. Para ele, a montagem de Deus e o Diabo na Terra do Sol representou um triplo desafio para o grupo, preocupado em estudar a colocação da música na cena teatral. “O primeiro [desafio] foi a transposição, para o teatro, da obra, criada para ser um filme, com linguagem e estéticas próprias do cinema. O segundo, colocar a música, que, no filme, é trilha sonora, como parte do texto da peça, cantada pelos atores, e, por fim, vencer o desafio das possibilidades ‘brechtianas’ do argumento de Glauber”, explica.
O espetáculo não é exatamente um musical, apesar de os atores cantarem ao vivo todas as músicas compostas para o filme. Se considerarmos que um musical é aquele espetáculo em que a música está a serviço do texto, então é um musical. Mas se for dentro do que hoje se entende como sendo o gênero, que são esses grandes espetáculos apoteóticos, não. É uma peça em que a música tem uma função fundamental para que a dramaturgia aconteça. A peça enquanto exercício acadêmico, é extremamente interessante, coesa e de qualidade, mas sentimos falta de se afirmarem como teatro, deixando para trás a referencia ao filme, assumindo a autoria do roteiro e propondo novas emoções das que já vivemos no longa. Com entrada franca, a peça baseada no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol poderá ser vista até o dia 22, de segunda a sexta-feira, às 19h.
Texto: Valter Vanir Coelho, jornalista
Lançado em 1964 e premiado em vários festivais internacionais, Deus e o Diabo na Terra do Sol é considerado um marco do Cinema Novo e da obra de Glauber. Além de diretor, o cineasta foi responsável pelo argumento, pelos diálogos, juntamente com Paulo Gil Soares, e pelas letras da música da trilha sonora, composta por Sergio Ricardo. O filme conta a história do casal de camponeses Manuel e Rosa, que vivem a fome e a miséria do sertão. Após descobrir que foi enganado por seu patrão, o coronel Morais, Manuel o mata e foge com a mulher, juntando-se aos seguidores de um beato, o Santo Sebastião. “Uma das coisas que nos impressionam muito é a qualidade dramatúrgica da música de Sergio Ricardo, além de toda a força da brasilidade do filme, que já é bem conhecida de todos”, avalia o diretor da peça, Jefferson Almeida. Para ele, a montagem de Deus e o Diabo na Terra do Sol representou um triplo desafio para o grupo, preocupado em estudar a colocação da música na cena teatral. “O primeiro [desafio] foi a transposição, para o teatro, da obra, criada para ser um filme, com linguagem e estéticas próprias do cinema. O segundo, colocar a música, que, no filme, é trilha sonora, como parte do texto da peça, cantada pelos atores, e, por fim, vencer o desafio das possibilidades ‘brechtianas’ do argumento de Glauber”, explica.
O espetáculo não é exatamente um musical, apesar de os atores cantarem ao vivo todas as músicas compostas para o filme. Se considerarmos que um musical é aquele espetáculo em que a música está a serviço do texto, então é um musical. Mas se for dentro do que hoje se entende como sendo o gênero, que são esses grandes espetáculos apoteóticos, não. É uma peça em que a música tem uma função fundamental para que a dramaturgia aconteça. A peça enquanto exercício acadêmico, é extremamente interessante, coesa e de qualidade, mas sentimos falta de se afirmarem como teatro, deixando para trás a referencia ao filme, assumindo a autoria do roteiro e propondo novas emoções das que já vivemos no longa. Com entrada franca, a peça baseada no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol poderá ser vista até o dia 22, de segunda a sexta-feira, às 19h.
Texto: Valter Vanir Coelho, jornalista
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