Bernarda por detrás dos experimentalismos universitários
Crítica do Espetáculo "Bernarda, por detrás das paredes" do Rio de Janeiro.
“Bernarda, por detrás das paredes” é o terceiro trabalho do Grupo Repertório Artes Cênicas e Cia, fruto da contínua construção duma linguagem bastante usada em cias que deixam a universidade de artes cênicas, e que na ânsia de mostrar o que aprenderam, exageram no construtivismo, na narrativa, e no enfadonho exercicio de interpretação. Lembrando de longe as técnicas do Teatro-dança, mas com o processo corporal fincado nessa técnica, o processo de criação colaborativa se apropria de espaços alternativos para aproximar a platéia, tornando visceral cada gesto, cada olhar, mas também acava revelando a inexperiência dos atores, ou a insegurança deles. Como matéria-prima para a criação do espetáculo foi escolhida a obra de García Lorca, ‘A Casa de Bernarda Alba’. As relações familiares e de gênero são a mola propulsora do jogo entre os dois atores, Nicolas Corres Lopes e Roberta Portela, que manipulam seus corpos para criar e destruir essas nove mulheres e suas angústias diante de uma castidade imposta pela matriarca, Bernarda Alba. A confusa utilização de trechos da Poética de Aristóteles acaba esvaziando a dramaticidade pesada tão marcada na obra de Lorca, é esse recurso que a diretora-dramaturga Nieve Matos utiliza para criar o distanciamento, tornando a montagem um exercicio teatral, bastante conhecido pelos estudantes das artes cênicas, mas impondo à platéia comum um pseudo exercicio de imaginação e estereótipos. O ponto positivo dessa escolha é manter ao espetáculo a eterna reestruturação das relações ator-espectador, cena-espaço e texto-ação mantendo realmente o texto vivo e dinâmico. (Texto de Valter Vanir Coelho, diretor e professor de artes cênicas)
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