O Canto da Sereia - Mergulha na boa tv que estava na estiagem criativa



Os elogios a “O Canto da Sereia” são mais do que merecidos, mas pq suas qualidades eram um contraste com o restante da programação da TV aberta. A grande audiência reforça que vale a pena fugir do lugar-comum e do óbvio. O espectador tratado como alguém que pensa, não como um idiota. A série foi um policial atraente, numa Salvador real, com personagens lembrando figuras conhecidas. Não óbvia, Sereia lembrava Ivete (citava Madison Square Garden, e com ex-casos com produtor musical (Luciano Huck foi o produtor e namorado de Ivete no inicio da carreira solo) e ainda muitas vezes subiu em palanques como Sereia, inclusive o da família de ACM). O marqueteiro Tuta Tavares (excelente Marcelo Medici) parecia muito com o marqueteiro de Lula, Duda Mendonça. E o Doutor Jotabê (Marcos Caruso), governador do Estado, obvia referência a notórios políticos locais. Walter Carvalho diretor de fotografia acostumado com cinema, deu um presente e  conseguiu levar o espectador a vivenciar uma tumultuada tarde de carnaval e outras cenas incrivelmente belas. Sem medo de confundir o público, o roteiro de George Moura e Patricia Andrade apresentou a história de forma não linear, em tempos diferentes, distribuindo indícios e pistas falsas. Isis Valverde, mesmo sem potência vocal, conseguiu surpreender, e deixar essa ausência de voz de lado. Camila Morgado entre o frágil e descontrolado saiu-se muito bem. E João Miguel como Só Love, foi o maior achado, ele já entra depois da série para o hall dos grandes atores da TV. Marcos Palmeira, convincente, mas Mandrake, policial da HBO, era muito recente, recomendaria não escalá-lo para um papel tão semelhante. Não vi exageros ou apelação nas cenas de sexo exibidas – todas dentro do contexto da história e do horário exibido. Só soou estranho o tratamento diferenciado dado ao namoro de Sereia e Mara e aos demais encontros amorosos exibidos. Mas o velho preconceito, onde uma pessoa não se choca vendo um tiro na cabeça, mas diz chocar-se com um beijo de amor com bocas do mesmo gênero (pura homofobia). Baseada no romance de Nelson Motta, com o assassino final modificado do livro, a série dirigida por Villamarim foi um respiro dentro dessa tv envelhecida e enfadonha que vem sendo vista.


Valter Vanir Coelho, crítico


 

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